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Escoliose idiopática do adolescente: entrevista com o Dr. Marcelo Risso

Atualizado: 21 de set. de 2023

Hoje temos um convidado muito especial mesmo aqui no blog, o Dr. Marcelo Risso, que é Professor e Coordenador do Grupo de Cirurgia de Coluna da UNICAMP, em Campinas, e Coordenador do Grupo de Cirurgia de Coluna do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo. Conversei com ele nos últimos dias, principalmente sobre a escoliose idiopática do adolescente, o uso do colete, detecção precoce, mas também falamos sobre o que vem por aí em relação ao futuro da deformidade. Confiram nosso bate-papo abaixo:


1- Dr. Marcelo, seja muito bem-vindo a esse espaço e obrigada por estar aqui conosco. Para iniciarmos nossa conversa, o Sr. poderia explicar o que é a escoliose idiopática do adolescente, por favor?


É um grande prazer falar com você, que fez da sua história de vida uma oportunidade de esclarecer e orientar pessoas que sofrem ou sofreram com a escoliose.


A escoliose é uma deformidade da coluna, que faz com que as vértebras se desviem da linha média do corpo, produzindo uma curva anormal. As doenças chamadas pela medicina de idiopáticas são aquelas que não têm uma causa conhecida até o momento. Desta forma, a escoliose idiopática é uma deformidade que desvia a coluna em relação a linha média e não tem causa definida. Trata-se do tipo mais frequente de escoliose e passa a ter importância clínica quando tem valor angular superior aos 10 graus na medida realizada em radiografias. Aproximadamente 80% das escoliose são idiopáticas. As curvas mais leves, em geral entre 10 e 20 graus têm prevalência na população de aproximadamente 20 a 30 pessoas em cada 1000. Já as curvas mais graves, ou seja, aquelas acima de 40 graus tem uma prevalência menor que 1 pessoa em cada 1000. A escoliose idiopática afeta crianças saudáveis e normais e tem o potencial de ser mais grave quando se inicia em indivíduos mais jovens.

escoliose idiopática do adolescente
Dr. Marcelo Risso


2- Com qual idade das crianças os pais e responsáveis devem começar a ficar de olho na coluna para notarem, rapidamente, qualquer desvio anormal?


Em geral, as primeiras manifestações visíveis surgem no início da adolescência, por volta dos 10 anos. É comum não ser notada pelos pais e sim por pessoas que têm menos convívio com a criança como tios, amigos e professores. A primeira manifestação visível é uma assimetria do contorno do tronco em relação aos braços. Com a evolução da curva, ocorre a deformidade das costelas que provoca uma giba, visível quando se faz a flexão do tronco. Porém, muitas vezes os pais têm somente dúvida e não conseguem concluir se há ou não deformidade.


3- E caso notem algo diferente, o que devem fazer?


Na presença de alguma dúvida, a primeira ação é perguntar a um médico, em geral o pediatra, se há alguma anormalidade. Após o exame do pediatra, ele pode solicitar um exame de imagem e encaminhar para avaliação especializada com ortopedista.


4- A detecção precoce da escoliose pode evitar a cirurgia?


Este é um ponto muito importante. Quanto mais precoce é o diagnóstico, melhor o efeito dos tratamentos não cirúrgicos. Assim, se bem indicado, bem realizado e no tempo correto, o tratamento conservador com coletes modernos e exercícios específicos de fisioterapia podem impedir a progressão da escoliose e até mesmo obter alguma melhora. Em boa parte dos casos pode evitar a necessidade do tratamento cirúrgico.


5- No último Simpósio Internacional de Escoliose da AACD, o Sr. falou sobre a avaliação da maturidade esquelética no paciente com escoliose. Qual a importância deste processo para o tratamento da escoliose idiopática do adolescente?


Esta é uma variável muito importante no acompanhamento e no tratamento da escoliose. Maturidade esquelética é o ponto em que o esqueleto passa de um esqueleto infantil, chamado imaturo para um esqueleto adulto, chamado maduro. O esqueleto adulto não tem mais potencial de crescer. Sabemos que as escolioses de todos os tipos, não somente as idiopáticas, progridem com o crescimento. Desta forma, saber qual o nível de maturidade do esqueleto é importante para se estimar o quanto a escoliose pode piorar e também para saber se tratamentos conservadores com colete e fisioterapia terão efeito. Avaliar a maturidade esquelética é desafiador para quem trata escoliose e é importante para tomada de decisões.


6- Em caso de recomendação do uso do colete e, considerando a dificuldade que é para crianças e adolescentes aceitarem essa condição, quais as principais dicas que o Sr. poderia dar para que o uso seja menos sofrido?


Atualmente os coletes disponíveis são mais discretos que aqueles usados anos atrás. Os coletes antigos, embora fossem eficientes, tinham como principal ponto de falha o uso inconsistente. Para que um colete seja efetivo, deve-se usar por muitas horas ao dia. Inicialmente, recomendava-se 23 horas ao dia, depois aceitou-se 16 horas ao dia. Porém, questões relacionadas a aparência, imagem negativa, dor e que em nosso país é agravada pelo calor, fazem com que o colete seja utilizado de forma irregular e se torne ineficaz. Coletes com extensão até a coluna cervical são muito pouco aceitos por nossa população. Os coletes mais modernos, chamados 3D, se mostram eficientes e não requerem a extensão cervical, podendo ficar sob a roupa. Mas somente este avanço não faz com que adolescentes aceitem o colete. É necessário realizar uma ou mais conversas com o paciente e com os pais - algumas em conjunto, outras separadamente - esclarecendo a necessidade e importância do uso, quais benefícios pode trazer, sempre motivando e combinando concessões de alguns momentos e situações em que seu uso poderia ser mais flexível. Mesmo assim, é bastante difícil e essas conversas têm que ser retomadas periodicamente ao longo do tratamento. Uma boa parceria e alinhamento com o fisioterapeuta é fundamental. Ao final de um tratamento bem sucedido com colete e fisioterapia, a sensação de vitória traz uma melhora muito importante da autoestima.


7- Quais são as queixas mais recorrentes dos pacientes que o Sr. escuta no consultório? E como o Sr. costuma resolver?


Em geral, a escoliose idiopática é assintomática. Eventualmente ocorrem dores que melhoram com analgésicos comuns e fisioterapia. As queixas mais comuns estão relacionadas ao uso do colete e à adesão a fisioterapia. Conversas constantes, ajustes do colete e um acompanhamento clínico e radiográfico periódico são muito importantes.


8- Quais foram os principais avanços da medicina em relação a escoliose nos últimos anos?


Os principais avanços em relação à escoliose ocorreram em três pontos: o primeiro é relacionado ao tratamento conservador, que está mais eficiente e baseado em melhores evidências, com uso de coletes 3D, associados a exercícios específicos. Isto trouxe uma melhor adesão ao tratamento e melhor eficiência. O segundo avanço se relaciona ao tratamento cirúrgico. Hoje podemos realizar cirurgias que trazem uma melhor correção, que são menos agressivas e, principalmente, mais seguras. Isto se deve a melhores técnicas, equipamentos e implantes mais modernos, além da monitoração neurofisiologia intraoperatória. Por fim, os avanços relacionados a avaliação da maturidade esquelética, com métodos radiológicos mais precisos e mais reprodutíveis, fazem com que sejamos mais assertivos na indicação de cada tipo de tratamento e que a decisão seja tomada no tempo mais adequado possível.


9- Pensando no futuro, o Sr. acredita que será possível identificar a escoliose de forma precoce com testes genéticos?


Existem testes genéticos em desenvolvimento, alguns já aplicados, que identificam o risco de se desenvolver escoliose. São realizados a partir de amostras de sangue ou saliva. Porém, ainda são pouco difundidos e sua aplicação em populações não se confirmou eficaz. De qualquer forma, vejo que, em breve, isso será uma realidade à nossa disposição.


10- E a cirurgia feita por robôs, será uma realidade a longo prazo?


A cirurgia robótica é uma realidade em várias áreas da medicina. Não será diferente na cirurgia de coluna. Porém, a operação destes robôs depende de um cirurgião. Por melhor que sejam, eles ainda não têm autonomia para realizar o procedimento, nem parte dele. O primeiro passo do uso da robótica, que já está bem perto de se tornar realidade, será o uso do auxílio robótico para posicionar implantes de forma mais precisa e segura. Vamos aguardar as novidades!


Dr. Marcelo, muito obrigada por tanta informação de qualidade! Tenho certeza que esta entrevista irá ajudar muitas pessoas que precisam.

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